Em crise, Gol reduz até água do banheiro e tamanho do bilhete para economizar
Após prejuízo de R$ 751 milhões em 2011, empresa adere a "economia da azeitona"
Uma azeitona a menos na salada, 40 mil dólares
a menos na folha de despesas. A história da economia feita
pela American Airlines no final dos anos 1980 é tão
famosa que ganhou ares de lenda urbana corporativa. Pois a Gol,
após amargar
prejuízo de R$ 751 milhões em 2011, anda em busca
de suas "azeitonas". Além das medidas mais
visíveis – como demissões,
cortes
de lanches gratuitos e eliminação
de voos deficitários – para economizar, a
empresa faz ajustes até no tamanho do papel usado para
imprimir passagens e na quantidade de água no banheiro dos
aviões.
"Não tem mais conta de um milhão
para cortar, estamos procurando conta de trinta mil", diz
diretor
"Quando calculado em escala, levando em
conta que a companhia faz 300 mil voos anuais, o impacto dos
pequenos ajustes é absurdo", afirma Pedro Scorza,
diretor de controle de operações da Gol. "A
'força bruta' já está cuidada, não tem
mais conta de um milhão para cortar. Estamos procurando
conta de trinta mil", diz – embora o mercado preveja
mais demissões neste ano. "Sempre acabamos achando um
'cem milzinho' para economizar em algum lugar", afirma.
Só para reduzir o consumo de combustível,
a empresa definiu 19 iniciativas. Quatro delas já são
aplicadas, as outras estão em teste. São coisas como
manter a superfície do avião "obsessivamente
limpa" – palavras de Scorza – para diminuir o atrito
com o ar, calcular com mais precisão o peso de querosene que
precisa ser levado em cada trecho, substituir o sistema que
alimenta a parte elétrica dos aviões em solo por
outro, mais econômico.
No fim, tudo isso mudou uma azeitona – na
verdade, um segundo – na queima de combustível.
Até o ano passado, um barril de 200 litros de querosene da
Gol durava, em média, três minutos e quarenta e cinco
segundos. Agora, dura um segundo a mais. A diferença só
parece pequena. Os 120 aviões da companhia voam 12 horas em
cada jornada. Numa conta rápida, a empresa economizou mais
de 20 mil litros de querosene por dia. O cálculo exato,
mostrando quantos reais a menos isso representa, deve aparecer no
balanço do segundo trimestre, que a empresa divulgará
em breve.
Leia mais: Gol
estuda cortar 2,5 mil empregos em 2012
Nem a água do banheiro escapou. Até
essa "intimidade" das aeronaves agora faz parte das
iniciativas para reduzir o peso dos voos – e,
consequentemente, o consumo de combustível. Os aviões
da Gol têm dois reservatórios de água para
atender os lavatórios, cada um com capacidade de 80 litros.
Antes, eles voavam sempre cheios. "Mas, em alguns trechos
curtos, como a ponte aérea Rio-São Paulo, isso
significava peso extra desnecessário", diz Scorza.
O diretor afirma que cada 100 quilos de peso
eliminado significam 3,8 quilos a menos de combustível
queimados por hora de voo. E combustível, diga-se, é
a principal despesa das companhias aéreas – cerca de 40%
dos gastos. "A variável mais relevante é o
combustível. Qualquer economia que impacte essa área
pode ter resultado significativo", diz Cláudia Oshiro,
economista que acompanha o setor aéreo na consultoria
Tendências. Mas os ajustes também miram outros
departamentos.
O passageiro mais
atento vai reparar, por exemplo, que o tíquete de passagem
ficou menor. "Antes, ele era impresso num papel enorme.
Mudamos a diagramação, encurtamos o código de
barras e agora a passagem está menor. Para economizar
bobinas de papel, mesmo", explica Felipe Sommer, diretor de
operações aeroportuárias da companhia. "É
mais uma 'azeitona', que só faz sentido quando vista na
perspectiva da escala", completa Scorza.
Check-in da Gol, no aeroporto de Congonhas:
bilhete menor para economizar bobinas de papel
A tripulação que trabalha em voos
do final do dia também passou a ser escolhida de olho no
balanço financeiro. Quando um avião "dorme"
no Rio de Janeiro ou em Porto Alegre, a Gol dá preferência
para escalar tripulantes que morem nessas cidades. Assim, eles
ficam em casa, não em hotéis. "A economia com
hotelaria e alimentação será na casa dos R$
10,5 milhões neste ano", diz Scorza. Para comparação,
apenas com juros sobre empréstimos e financiamentos, a Gol
gastou quase 40 vezes esse valor no ano passado.
A rotina dos tripulantes acaba afetada de
diferentes formas pelas mudanças. Segundo um passageiro
recente conta ao iG, um comissário que
viajava "de carona" na poltrona ao lado, no trecho
São Paulo-Brasília, teve de pagar – assim como
os passageiros comuns – pelo lanchinho que pediu.
"Em 2011, as principais companhias aéreas
fizeram uma guerra tarifária agressiva, enquanto o preço
do combustível subiu bastante. Isso fez muitas
terem problemas de balanço", diz Ohara, para
explicar alguns fatores que agora levam a Gol a economizar cada
centavo. "Mas as tarifas também atraíram um novo
público, que antes viajava mais de ônibus. Para esse
público, acredito que os pequenos ajustes não
signifiquem um prejuízo na imagem da companhia", avalia
a economista.
Segundo um diretor da empresa, o balanço
do segundo trimestre ainda deve registrar prejuízo. Mas a
expectativa é que o seguinte, do terceiro trimestre, possa
vir no azul. Isso porque, além de diversas economias terem
sido feitas, as férias de julho tornam essa época boa
para o setor. Se isso acontecer, será o primeiro trimestre
superavitário desde o início de 2011 para a
companhia. A comemoração, nesses tempos de prudência,
bem poderia ser brindada em copinhos de plástico
Comentário:
O Titulo desta
reportagem poderia ser: “ GOL, FAZENDO GOL CONTRA” .
Melhorias e
racionalização de custos é saudável para
qualquer empresa, porem tratar o cliente como se fosse culpado dos
erros de estratégia será extremamente benéfico para
concorrência.
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