Empresas anunciaram ontem a união de suas operações, criando uma holding
que terá participação de 67% da Azul e de 33% da Trip
29 de maio de 2012
MARINA GAZZONI - O Estado de
S.Paulo
As empresas aéreas Azul e a Trip oficializaram ontem a fusão de suas
operações. A união forma um grupo dono de 14% do mercado doméstico brasileiro,
líder no número de destinos atendidos e com previsão de receita de R$ 4,2
bilhões este ano. O negócio ocorre cerca de um ano após a TAM assinar uma carta
de intenção de compra de 31% da Trip, opção que não foi exercida.
A negociação resultou na criação da holding Azul Trip, controladora das duas
companhias aéreas. Os acionistas da Azul serão donos de 67% do grupo, e o
restante ficará nas mãos dos controladores da Trip. As empresas tratam a
operação como uma fusão, mas o mercado enxerga o negócio como uma aquisição da
Trip pela Azul. "Fusão entre empresas com participações desiguais tem mais
cara de aquisição", disse o sócio-diretor da consultoria de fusões e
aquisições Naxentia, Vincent Baron.
A fusão, porém, faz dos grupos Capriolli e Águia Branca, donos da Trip, os
maiores acionistas da holding Azul Trip. Há uma semana, eles recompraram 26%
das ações da Trip que estavam nas mãos da americana SkyWest e se tornaram os
únicos controladores da companhia, com participação igualitária. "Um
negócio não tem a ver com o outro. Mas aceleramos a compra de ações da SkyWest
para evitar qualquer conflito societário", disse o presidente da Trip,
José Mário Capriolli.
A Azul tem capital distribuído nas mães de fundos como Gávea, TPG e Weston
Presidio e do fundador David Neeleman.
Azul e Trip aguardam o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para começar a integrar as
empresas. Após as aprovações, devem integrar suas malhas e adotar uma marca
única. Oficialmente, Azul e Trip afirmam que farão estudos para escolher a
marca mais forte, mas fontes do mercado de aviação disseram ao Estado que a
marca Azul prevalecerá.
Negociação. A associação de Azul e Trip azedou os planos da TAM de ter um
braço regional. A TAM assinou em março do ano passado uma carta de intenção de
compra de 31% da Trip. Mas, segundo Capriolli, a empresa perdeu o direito de
preferência na aquisição em janeiro último.
A TAM concentrou seus esforços em concluir sua fusão com a chilena LAN no
decorrer do ano passado, o que deixou a negociação com a Trip mais lenta.
"Quando eles entraram nesse processo, acho que ficaram muito envolvidos.
Às vezes, uma organização não consegue maturar tantas fusões e aquisições ao
mesmo tempo. Então, vimos que o 'timing' não seria mais compatível", disse
Capriolli.
Hoje, cerca de 5% das passagens da Trip são vendidas pela TAM, por meio de
um acordo de code share (compartilhamento de voos). Tanto a TAM quanto a Trip
disseram que o contrato está mantido, mas não informaram qual seu prazo de
validade.
Destinos. A fusão com a Trip dará à Azul presença em 96 cidades entre as 108
que recebem voos regulares. É a maior cobertura em número de destinos no
Brasil. Mesmo com 39,9% do mercado, a líder TAM voa para 42 cidades. A Gol,
dono da 34,8%, atende 63 destinos. "Estamos interessados nas cidades
médias porque elas crescem mais rápido (...). E os passageiros do interior
poderão alimentar os voos entre as grandes cidades", disse Neeleman.