sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Lembranças de um herói do ar
Publicada em 08/11/2010 às 18h07m O Globo
Artigo do leitor Benito José Mussoi
Quase ninguém lembrou, mas no final do mês de outubro faleceu aqui no Rio de Janeiro, aos 90 anos, um personagem memorável da história da aviação civil brasileira. Trata-se do ex-comandante e diretor da Varig Goetz Hertzfeld.
Nos idos de julho de 1949, o comandante pilotava um avião de passageiros que voava entre o Rio de Janeiro e Porto Alegre, transportando um grupo de universitários que retornavam de uma viagem à Bahia. Quando faltavam poucos minutos para a chegada e o avião já sobrevoava a Serra Gaúcha, começou um incêndio a bordo, que obrigou o comandante a fazer um pouso de emergência no meio de uma floresta.
Entre os passageiros estava um jovem estudante que possuía de brevê de piloto civil. Ao notar a situação de perigo, o rapaz prontificou-se a colaborar, segurando a porta principal do avião, a fim de evitar que a mesma empenasse com o choque do pouso forçado e impedisse a saída dos passageiros.
Enquanto isso, a fumaça inundava a cabine de comando, tirando a visibilidade do piloto. Como naquela época os aviões ainda não eram a jato, tampouco pressurizados, o comandante Goetz abriu a janela dianteira da cabine para executar a crítica manobra do pouso forçado. Com a forte corrente de ar gelado gerada pela abertura da janela, o comandante teve seu rosto inteiramente queimado.
A manobra de emergência foi um sucesso, e poupou a vida de quase todos os passageiros. Porém, com o choque do pouso forçado, o estudante que ajudava na porta foi projetado para fora do avião, morrendo instantaneamente. Ele era filho de um importante advogado e político gaúcho, Adroaldo Mesquita da Costa, que então era o Ministro da Justiça do Brasil.
Trágica e ironicamente, foi o próprio Adroaldo quem foi ao hospital em Porto Alegre entregar ao comandante sobrevivente uma condecoração especial da Governo brasileiro.
Por ter tido a oportunidade de ser apresentado, anos mais tarde, ao Comandante Goetz, quando ele exercia o cargo de Diretor de Operações da Varig, sinto-me motivado a lembrar este trágico e heróico fato, que emocionou o Rio Grande do Sul há mais de 60 anos. Que sirva como memória, além de manifestação de respeito e solidariedade às familias Hertzfeld, Mesquita da Costa e demais vítimas deste episódio.
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