sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A HISTÓRIA QUE INTERESSA





Por Joao Carlos Bolognese

Cada um tem o direito à própria história e ao seu controle, se possível. Quando esse controle é feito por terceiros, não se tem uma história, mas a versão de quem conta. Nesses últimos seis, quase sete anos, apesar de esforços individuais, a história dos variguianos, como vem sendo contada, é feita segundo um modelo que não deixa dúvidas quanto à culpa pela degradação da vida desses trabalhadores. Eles próprios seriam os responsáveis por estarem sofrendo o desemprego, a perda dos direitos trabalhistas e o calote nas pensões dos aposentados. Alvo de suas escolhas equivocadas, os ex trabalhadores e aposentados da Varig estariam – numa estranha demonstração de que no Brasil a justiça funciona – pagando até por antecipação, antes mesmo de sentença “transitada em julgado”, como se diz em juridiquês, haja vista esses quase sete anos de penúria, num caso em que nem se considera a “progressão de pena”, benefício que contempla vários tipos de crimes – corrupção, sem dúvida – e outros onde o senso comum recomenda que se tranque o criminoso e se jogue fora a chave.

Absurda assim, esta é a história que se conta sobre nós cada vez que a “União”, através de seus vigilantes do peso das arcas do tesouro nacional expedem liminares descumprindo decisão judicial (não sei como conseguem, mas no Brasil pode) impedindo-nos de sair dessa história de horror que já se aproxima do sétimo ano.

Vivemos numa época em que, dependendo de quem conta, as versões valem mais do que os fatos, pois contar uma história que se pretende verídica sobre seja lá o que for, é um exercício de poder. Com uma imprensa que cada vez mais vocaliza em vez de questionar as falas e atitudes do estado, não sobra poder do lado mais fraco para contar sua história, ainda que inacreditável, mas verdadeira, como a que se passa com os variguianos.

As lendas da aviação, fascinantes em si, não revelam toda a história de dedicação e racionalidade necessárias a quem trabalha sob a lupa das normas e procedimentos que fazem a segurança dessa atividade - embora de alto risco – mas com baixas estatísticas de fatalidades, considerando apenas o setor de transportes.

Fascinante para os de fora, trabalhar na aviação é para quem gosta e aceita que fazer o que é correto - a única opção. É concordar que, por questão de ofício e por autopreservação, não podemos trair normas que aceitamos pela profissão, pois além de ser a traição da confiança pública, é com certeza o caminho da nossa própria extinção.

E no nosso caso, não diferente dos de outras empresas e profissões, para que a nossa extinção física não se desse logo após cumprida a missão, isto é, ao nos aposentarmos, foi criado para o nosso alívio o Instituto Aerus, que deveria ser o “happy ending” de nossa história de vida dedicada ao trabalho de construir uma aviação comercial que fizesse bem ao país. O que foi feito enquanto deixaram. Em contrapartida, o país, pelas mãos de quem está agora no poder, não faz nenhum bem aos trabalhadores remanescentes dessa aviação que foi a era Varig.

Para se falar sobre nós e tomar decisões que afetam seriamente as nossas vidas, é preciso levar em conta o que modestamente expus como os fatos que realmente contam para quem trabalhou, se aposentou ou apenas perdeu seu emprego na Varig. Para falar de nós e decidir o nosso destino, é preciso que se lembre do nosso profissionalismo, de nossa aversão à negligência operacional, o que leva necessariamente à conclusão que se agíssemos com o descaso e indiferença que agora nos dedicam, muita pessoas que estiveram sob nossos cuidados em aviões da Varig, hoje não estariam seguindo suas vidas normalmente, incluindo talvez uns tantos que, sabedores dos fatos tanto quanto nós mesmos, ainda insistem em nos prejudicar.

Finalizo com a esperança que a seriedade profissional de respeito às normas, e sobretudo à vida das pessoas que permeia a história dos variguianos, seja a mesma seriedade com que seremos tratados a partir deste ano que se inicia. E que fique claro que, se era obrigatório nós sabermos que a negligência mata, que não venhamos a ser prejudicados pelo que mais combatemos em nossa profissão.

Feliz 2013 para nós todos!

JC Bolognese

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