A HISTÓRIA QUE INTERESSA
Por Joao Carlos Bolognese
Cada um tem o direito à própria história e ao seu controle, se
possível. Quando esse controle é feito por terceiros, não se tem uma
história, mas a versão de quem conta. Nesses últimos seis, quase sete
anos, apesar de esforços individuais, a história dos variguianos, como
vem sendo contada, é feita segundo um modelo que não deixa dúvidas
quanto à culpa pela degradação da vida desses trabalhadores. Eles
próprios seriam os responsáveis por estarem sofrendo o desemprego, a
perda dos direitos trabalhistas e o calote nas pensões dos aposentados.
Alvo de suas escolhas equivocadas, os ex trabalhadores e aposentados da
Varig estariam – numa estranha demonstração de que no Brasil a justiça
funciona – pagando até por antecipação, antes mesmo de sentença
“transitada em julgado”, como se diz em juridiquês, haja vista esses
quase sete anos de penúria, num caso em que nem se considera a
“progressão de pena”, benefício que contempla vários tipos de crimes –
corrupção, sem dúvida – e outros onde o senso comum recomenda que se
tranque o criminoso e se jogue fora a chave.
Absurda assim,
esta é a história que se conta sobre nós cada vez que a “União”, através
de seus vigilantes do peso das arcas do tesouro nacional expedem
liminares descumprindo decisão judicial (não sei como conseguem, mas no
Brasil pode) impedindo-nos de sair dessa história de horror que já se
aproxima do sétimo ano.
Vivemos numa época em que, dependendo
de quem conta, as versões valem mais do que os fatos, pois contar uma
história que se pretende verídica sobre seja lá o que for, é um
exercício de poder. Com uma imprensa que cada vez mais vocaliza em vez
de questionar as falas e atitudes do estado, não sobra poder do lado
mais fraco para contar sua história, ainda que inacreditável, mas
verdadeira, como a que se passa com os variguianos.
As lendas
da aviação, fascinantes em si, não revelam toda a história de dedicação e
racionalidade necessárias a quem trabalha sob a lupa das normas e
procedimentos que fazem a segurança dessa atividade - embora de alto
risco – mas com baixas estatísticas de fatalidades, considerando apenas o
setor de transportes.
Fascinante para os de fora, trabalhar
na aviação é para quem gosta e aceita que fazer o que é correto - a
única opção. É concordar que, por questão de ofício e por
autopreservação, não podemos trair normas que aceitamos pela profissão,
pois além de ser a traição da confiança pública, é com certeza o caminho
da nossa própria extinção.
E no nosso caso, não diferente
dos de outras empresas e profissões, para que a nossa extinção física
não se desse logo após cumprida a missão, isto é, ao nos aposentarmos,
foi criado para o nosso alívio o Instituto Aerus, que deveria ser o
“happy ending” de nossa história de vida dedicada ao trabalho de
construir uma aviação comercial que fizesse bem ao país. O que foi feito
enquanto deixaram. Em contrapartida, o país, pelas mãos de quem está
agora no poder, não faz nenhum bem aos trabalhadores remanescentes dessa
aviação que foi a era Varig.
Para se falar sobre nós e tomar
decisões que afetam seriamente as nossas vidas, é preciso levar em conta
o que modestamente expus como os fatos que realmente contam para quem
trabalhou, se aposentou ou apenas perdeu seu emprego na Varig. Para
falar de nós e decidir o nosso destino, é preciso que se lembre do nosso
profissionalismo, de nossa aversão à negligência operacional, o que
leva necessariamente à conclusão que se agíssemos com o descaso e
indiferença que agora nos dedicam, muita pessoas que estiveram sob
nossos cuidados em aviões da Varig, hoje não estariam seguindo suas
vidas normalmente, incluindo talvez uns tantos que, sabedores dos fatos
tanto quanto nós mesmos, ainda insistem em nos prejudicar.
Finalizo com a esperança que a seriedade profissional de respeito às
normas, e sobretudo à vida das pessoas que permeia a história dos
variguianos, seja a mesma seriedade com que seremos tratados a partir
deste ano que se inicia. E que fique claro que, se era obrigatório nós
sabermos que a negligência mata, que não venhamos a ser prejudicados
pelo que mais combatemos em nossa profissão.
Feliz 2013 para nós todos!
JC Bolognese
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